Doar medula óssea não dói

Na época em que Bouzas fundou o banco de doadores, em 1993, o Brasil fazia apenas 23 transplantes de medula óssea. Este número aumentou mais de 10 vezes e deve atingir 210 transplantes até o fim do ano, dos 800 pacientes cadastrados já prontos para a operação. Ao todo, 2,5 mil pessoas acusam ter a doença no país, mas nem todas estão em boas condições de saúde para fazer o transplante, já providenciaram a papelada ou apresentaram o exame genético necessário para dar início ao processo. No caso do mineiro Felipe Henrique, ninguém da família – a mãe, o pai, o irmão e parentes próximos – apresentou compatibilidade para doar a medula. Entre familiares, a chance aumenta para 25%.

Felipe lutou até o fim contra a leucemia mieloide aguda, exatamente o mesmo tipo de doença que acometeu a atriz de comédias Drica Moraes, de 40 anos, em fevereiro. Ela também não encontrou compatibilidade entre familiares. “A doença estava fora de controle, ela não vinha bem no tratamento e teve a sorte de encontrar um doador 100% compatível com ela aqui no Brasil logo ao fazer a inscrição”, explica Bouzas, que não pode revelar o estado de origem do doador. Segundo ele, o doador já havia feito todos os exames complementares em prol de outro paciente, que acabou não precisando do transplante, o que agilizou o processo, beneficiando indiretamente a atriz. Em entrevistas a programas de televisão, hoje já curada, Drica faz um esforço sobre-humano para se dedicar ao filho adotivo e diz que as coisas para ela mais vitais – o filho e a medula – vêm de anônimos, aos quais agradece todas as manhãs.

Brasil tem quase 3 milhões de doadores
Nos primeiros 10 anos de existência, o banco de doadores de medula óssea contava com apenas 35 mil doadores inscritos no Brasil. Atualmente, são 2,7 milhões, podendo ampliar para 17 milhões nos convênios com os bancos ao redor do mundo. Quando o trabalho começou, 70% dos doadores compatíveis vinham de fora do país, a um custo muito alto para o SUS, e 30% de dentro. Hoje, essa proporção inverteu-se. “Além de ser uma economia significativa, a chance de salvar pacientes aumenta muito porque a miscinegação no Brasil é importante e não adianta procurar um doador na mesma situação no registro alemão, a não ser que o paciente brasileiro tenha nascido nas colônias alemãs em Santa Catarina e no Paraná”, explica Bouzas. Nenhuma ajuda, porém, pode ser descartada, diz o médico, lembrando de um caso emblemático de um portador de leucemia de São Paulo de origem judia que só encontrou doador no banco de medula de Israel.

O Brasil faz parte do esforço internacional de solidariedade, fornecendo medula para outros países, como Portugal, Espanha e Itália, mas a chance maior é de o Brasil importar doadores devido à nossa miscigenação. “O melhor é ser autossuficiente e resolver o problema aqui dentro mesmo, pois é difícil o transporte internacional e a burocracia com os documentos. Na Ásia, por exemplo, há impedimento para o envio de material humano”, compara. “Temos que aumentar a agilidade para não perder o timing, que pode salvar vidas”, conclui Bouzas.

Saiba mais/ o que é compatibilidade?
Para que se realize um transplante de medula é necessário que haja uma total compatibilidade entre doador e receptor. Caso contrário, a medula será rejeitada. Esta compatibilidade é determinada por um conjunto de genes localizados no cromossoma 6, que devem ser iguais entre doador e receptor.Quando não há um doador aparentado (um irmão, parente próximo, geralmente um dos pais), a solução para o transplante é recorrer aos registros de doadores voluntários, tanto no Redome (o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea) como nos bancos do exterior. No Brasil a mistura de raças dificulta a localização de doadores compatíveis. Mas hoje já existem mais de 17 milhões de doadores em todo o mundo. No Brasil, o Redome tem mais de 2,7 milhões de doadores.

Fonte: Estado de Minas

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